Texto de Patricia Borges \
Os governos de 23 estados do Brasil, possuem atualmente em vigor regras de quarentena, no contexto da pandemia do COVID-19 (Novo Coronavírus), que suspendeu o consumo local em bares, restaurantes, padarias, feiras livres, supermercados e lanchonetes, fato que fez aumentar os serviços de entrega “delivery” e “drive thru”. Fomos as ruas, registrar o trabalho desses entregadores e conversar com alguns deles.
A rede de prestação de serviços de empresas de entregas por aplicativos seguem em plena atividade uma vez que para manter o isolamento social, grande parte da população tem optado por fazer pedidos e receber seus produtos de necessidade e alimentação em casa. O resultado disso é num número cada vez maior de entregadores se deslocando por entre avenidas e ruas vazias da cidade de São Paulo, para atender a essa nova realidade, conseguindo assim, oportunidade para driblar o desemprego em tempos de pandemia, apesar do trabalho precarizado e de jornadas extenuantes, que chegam a até 12 horas de trabalho.

Como autônomos e com a perspectiva de renda proporcional ao tempo de trabalho, e possibilidade de definir os próprios horários, milhares de ciclistas e motoboys entraram para estes serviço. Sobre as possibilidades de ganhos, os entregadores se adaptam às regras que variam de empresa para empresa, algumas adotam a forma de pagamento entre valores mínimos e fixos por entregas de até 3 quilômetros aumentando por km rodado, e em outras o seu ganho depende de diversos fatores, como: densidade de pedidos dos restaurantes por bairro e horário da demanda, tempo disponível para entregar e distância e trajeto das entregas (quem mais entrega, mais recebe). Há também a possibilidade de ser entregador fixo de algum restaurante se assim as partes desejarem.
Algumas empresas do ramo criaram um fundo para apoio financeiro aos autônomos que precisarem ser afastados do trabalho em decorrência do covid-19, porém ainda não está definido como essa ajuda chegará ao entregador e notamos nas ruas, um desconhecimento desse fato pela maioria dos trabalhadores. Recentemente umas das mais conhecidas plataformas do ramo (iFood) reverteu a decisão da Justiça do trabalho que obrigava a empresa a pagar assistência financeira de ao menos um salário mínimo aos seus entregadores, caso fossem afastados por serem do grupo de risco ou por terem contraído a COVID-19.

A realidade encontrada nas ruas hoje é de uma grande circulação desses entregadores, que, apesar de não terem sido enquadrados na condição de serviços essenciais, assim se mostraram. Vimos vários trabalhadores preocupados com a disseminação do vírus, cuidadosos em sua rotina, felizes por poder manter seus rendimentos, apesar do risco. Conversamos com Leandro, enquanto aguardava por mais um chamado de seu aplicativo para outra entrega nos disse que migrou de um serviço de transporte de passageiros por aplicativo para as entregas de alimentos devido a necessidade de isolamento e nos conta que, se sente mais seguro fazendo entregas pois o contato com outras pessoas é menor e mais rápido.
Assim como Leandro, observamos que a rotina desses entregadores é mesmo pela sobrevivência, apesar de estarem gratos por terem suas atividades mantidas, eles necessitam de melhores condições materiais de trabalho (como álcool em gel, água para lavar as mãos), alguma forma de segurança da empresa, caso deixem de trabalhar por terem contraído o COVID-19, e maior valorização de seus serviços, que são de longas jornadas, indo e vindo pelas ruas da cidade. Para todos eles, como diz a música, deixamos o pedido:
“Cuide-se bem!
Prá nunca perder
Esse riso largo
E essa simpatia
Estampada no rosto
Cuide-se bem!
Eu quero te ver com saúde.”
Guilherme Arantes, Cuide-se Bem!