Texto: Wagner Maia
Fotos: Kauê Pallone e Vinícius Ribeiro

O Brasil possui marcas expressivas do racismo na construção de sua história. Aproximadamente a 522 anos atrás, indígenas foram arrancados e massacrados diante de sua própria terra. Sua população, quase dizimada a golpes certeiros de doenças, armas de fogo e etnocidio de sua cultura.
O genocídio não parou em meandros indígenas, cerca de 4,8 milhões de seres humanos de origens africanas foram trazidos a força, escravizados e mortos sob a batuta de um regime escravista português. Este país que hoje contêm tamanhos continentais, sempre foi marcado e vestido pelo sistema de escravidão.

Passados mais de cinco séculos de história, as estruturas da escravidão ainda soam como um componente fundamental para a discriminação da população negra. No dia 24 de janeiro de 2022, Moïse Kabagambe, um imigrante congolês que reside no Brasil desde 2011, foi em busca, segundo testemunhas e reportagens, da cobrança de dois dias de trabalho em um quiosque chamado Tropicália na Barra da Tijuca, Zona Oeste da Cidade do Rio. Porém, ao invés de receber o que de fato era seu por direito, foi morto a paulada, especificamente mais de 30 pauladas.

Enforcado como bicho, espancado como animal, amordaçado como um não ser humano. Aos transeuntes na via e praias, a aprovação de ser mais um negro ladrão sendo morto por capangas que supostamente zelam pela segurança da Barra da Tijuca.

Aos noticiários, algumas notas de rodapés falando em mais uma morte negra. Como sempre, as grandes emissoras de televisão não dão muita atenção a uma morte negra, tomando iniciativa somente depois do caso viralizar na internet.
Nesta mesma semana, um militar branco, matou seu vizinho negro em São Gonçalo, também no Rio de Janeiro, o confundindo com um bandido. Três tiros certeiros em um trabalhador que saia cedo para trabalhar e voltava a noite para os braços de sua família amada. O militar não deu segunda chance a um pobre trabalhador negro.

Os atendentes do quiosque Tropicália, sequer deixaram Moïse Kabagambe se defender e implorar pela sua vida. Sabe-se que o quiosque pertencia a um policial militar e estava ali ilegalmente.
O saldo dessas histórias de racismo no Rio de Janeiro, foram duas vidas arrancadas diante dos olhos de uma sociedade punitivista. Podemos assim, pensar que foram mais dois indivíduos mortos em uma suposta normalidade genocida em um país chamado Brasil. Entretanto, tem se formado constantes resistências do povo negro em diversas partes deste território. O Rio de Janeiro, berço da escravidão, movimento negro, entidades de direitos humanos, e uma parcela considerável da sociedade resolveram sair às ruas em protestos contra essas mortes e a culpabilização dos criminosos.

Neste sábado, dia 5 de fevereiro, uma grande concentração de ativistas, movimentos negros, e de diversos outros direitos civis, se juntaram em frente ao quiosque Tropicália em protesto. A força e a resistência do povo negro que sempre sustentou esse país escravista, hoje chora pelos seus iguais que são mortos a puladas e tiros. Mas, há resistência e as ruas hoje não só do rio, como em outros lugares, mostraram sua força. Nós população negra, não vamos parar enquanto a população negro, periférica e outras minorias não estiverem seguras.
Vamos despir esse país racista e o revestir com resistência negra.