Atos ocuparam as ruas de diversas cidades do país contra o saudosismo da ditadura
Texto por Kauê Pallone e Patrícia Borges
O dia 31 de março traz consigo o peso histórico de um período sombrio na linha do tempo do Brasil, a data remete ao golpe militar de 1964 que deu início a uma ditadura cívico-militar que torturou cerca de 10 mil pessoas e matou mais de 8.000 indígenas. De acordo com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que investigou todos os crimes praticados pelos agentes da repressão dos 20 anos de regime ditatorial, foram 434 civis mortos, 144 desaparecidos, sem falar naqueles que nem sequer houve registro.
São tempos para não serem esquecidos, devem ser lembrados para que se resista aos fantasmas desse passado que insistem em surgir através de ações de pessoas saudosas à mordaça. Entre estas pessoas está o atual Presidente do país, Jair Bolsonaro, que nos dias que antecederam a data do golpe, resolveu determinar ao Ministério da Defesa que faça as “comemorações devidas” pelos 55 anos do golpe. O ato de Bolsonaro foi logo rechaçado por pessoas que viveram e sofreram durante a ditadura, além de movimentos ligados aos direitos humanos.
Foram convocados atos por todo o Brasil, milhares de pessoas foram às ruas para dizer não às “comemorações” do golpe conclamadas por Bolsonaro. No Rio de Janeiro, um grande ato ocupou a Cinelândia no centro da cidade e em São Paulo dois atos aconteceram para relembrar os horrores da ditadura, um deles ocorreu na Av. Paulista e se misturou às pessoas que passeavam pela via enquanto músicas de resistência ao regime eram tocadas, em um certo momento houve um conflito entre os manifestantes contrários à ditadura e (pasmem!) pessoas pró-ditadura, além disso um boneco representando o torturador Coronel Ulstra foi queimado.
Ainda em São Paulo, a Comissão especial sobre mortos e desaparecidos Políticos , no intuito de dar visibilidade a questão e promover reflexão sobre o tema, promoveu a 1ª Caminhada do Silêncio. O Ato teve sua concentração na praça da paz – localizada no Parque do Ibirapuera- com shows de acolhimento a familiares de vitimas e caminhada até o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, situados no mesmo local. Levando cartazes com fotos das vitimas, velas e flores, cerca de oito mil pessoas caminharam com sentimento de consternação e indignação em razão da comemoração da data pelo exercito Brasileiro. Não podemos mais permitir que famílias sejam destruídas por tamanha crueldade, disse um dos participantes do ato enquanto olhava o memorial feito as vitimas frente ao monumento. O grupo se reuniu também no dia 30 de março nas dependências do antigo DOI-CODI em um movimento pedindo para que o local se transforme em um local de memória. Muitos cartazes eram vistos no local e o pedido de Ditadura Nunca Mais ecoava entre vozes e lágrimas
Confira a cobertura feita pelo Coletivo Fotoguerrilha dos atos no Rio de Janeiro e em São Paulo, pelas lentes de Vinícius Ribeiro, Patrícia Borges e Kauê Pallone.