Parte I: Manifestação no Rio de Janeiro de manhã
Rio de Janeiro (14/6): Já nas primeiras horas da greve geral, de manhã bem cedo, um grupo de manifestantes, tentava fechar algumas das principais vias de acesso ao centro da cidade. Na Av. Francisco Bicalho, na subida que dá acesso à Av. Presidente Vargas, no sentido centro, um grupo trancou a via, fazendo pequenas barricadas de fogo, no entanto a Polícia Militar chegou e dispersou a ação.
A truculência e nervosismo da PM eram notórios, os manifestantes percebendo isso, decidiram andar, dando a volta na Presidente Vargas e seguindo sentido Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) para se encontrar com outro grupo de manifestantes, que fechavam a descida da Ponte Rio Niterói.
Ao chegar ao INTO a dimensão do engarrafamento já era enorme, a ponte estava toda parada, segundo informações da própria polícia que tentava desobstruir a via. O grupo ficou alguns minutos e decidiu seguir sentido Rodoviária Novo Rio, foi aí que a polícia entrou em ação.
Sem legitimidade alguma, queria impedir os manifestantes de caminharem, fizeram um cordão de isolamento em frente ao ato. Algumas pessoas não acataram a ordem, e seguiram, os polícias começaram a pegar as armas de lançar bombas, um deles o comandante da operação de um tiro pra cima.
Daí em diante foi só truculência e repressão sem sentido. Várias bombas de gás foram lançadas em cima de pessoas que só queriam caminhar até a rodoviária, bombas de efeito moral estouraram perto dos manifestantes, uma delas, atingiu minha perna, mesmo completamente identificada com capacete escrito imprensa, máscara anti-gás e crachá.
Não fui a única, uma senhora machucou a perna, porém, alguns resistentes seguiram, e chegaram a rodoviária. A greve geral no Rio de Janeiro começou com repressão da polícia e terminou do mesmo jeito… Mas as ruas deram seu recado contra a reforma da Previdência já nas primeiras horas do dia.
Texto escrito por: Bárbara Dias
Parte II: As greves gerais, as poesias das ruas e os verbos de resistência. Grandes atos no Rio de Janeiro e São Paulo.
As ruas em 2019, tem se tornado uma poesia de lutas sociais. Na maioria das vezes, devido as incompetências dos governantes, diante das necessidades das demandas de uma juventude cada vez mais exigente e principalmente, em não saber dialogar com esse e outros públicos sociais. Neste mês de junho, especificamente dia (14), a poesia se transformou em verbo de luta contra as políticas que o governo Bolsonaro tem feito no Brasil.
Especificamente em matéria de educação, sua investida tem cortado cada vez mais as verbas essenciais para a sobrevivência das universidades, escolas e institutos federais. A princípio, o corte era de 30%, mas, em determinadas entidades chegou a 40%. As ruas no mês de maio deram o sinal que travaria uma batalha em prol da educação e contra o governo Bolsonaro com mais de 200 mil pessoas no Rio, 500 mil em São Paulo e tantas outras capitais e cidades pelo Brasil. Mas, não paramos por aí, remarcamos para junho a nova resistência, no que ficou denominado como “greve geral”, organizado por entidades sindicais, de educação e outros tantos setores que lutam contra um governo que não sabe dialogar e sim cortar.
A poesia de resistência no Rio de Janeiro, marco seu ponto nodal na famosa e histórica Igreja da Candelária, esta que já foi palco de uma das maiores chacinas contra adolescentes na década de noventa, onde oito crianças foram mortas covardemente por justiceiros assassinos, agora foi palco de encontros diversos. Eram adolescentes com dizeres “queremos uma educação pública, laica e de qualidade”, outros como “A UERJ resiste!”. A poesia de luta foi além, nos últimos dias, o jornal The Intercept, trouxe à tona, conversas do Ministro da Justiça Sergio Moro, antigo juiz federal, responsável pela operação Lava Jato, com o procurador da justiça federal Deltan Dallagnol, sobre o caso do Triplex em São Paulo, responsável pela prisão do ex presidente Lula. Esses diálogos, demonstram uma possível parcialidade do ex-juiz Moro e Dallagnol. As ruas vieram abaixo com os dizeres, “lula livre” e “prisão para Moro”.
O verbo de luta ao final da caminhada da Candelária até a Central do Brasil, terminou com confronto entre a polícia e grupos independentes. A rua, virou palco de repressão policial, com investida de tanque do exército, cavalaria da polícia militar e até mesmo, seguranças privados no entorno da Uruguaiana, onde caminharam com pedaços de ferro e madeiras a procura dos grupos resistentes. O que se viu, foi truculência da força policial e de seguranças privados, ditos por muitos, justiceiros que tem suas regras próprias, que ferem a constituição.
Em São Paulo, milhares de pessoas ocuparam a Avenida Paulista em mais uma demonstração de força da luta dos trabalhadores. O ato seguiria até a Praça da República no centro da cidade, mas foi interrompido pela truculência policial quando atravessava o cruzamento da Rua da Consolação. A repressão começou logo após policiais militares agredirem e prenderem um homem que participava da manifestação, enquanto a população tentava impedir que o homem sofresse a violência dos policiais, um dos militares lançou contra o povo uma de suas bombas. Em seguida o que se viu foi uma demonstração de arbitrariedades da PM, com bombas e tiros de bala de borracha sendo disparados contra os manifestantes. Houve resistência dos trabalhadores que se defendiam da ação policial, ações diretas e barricadas para afastar a PM. Mais de 10 pessoas foram presas durante o dia inteiro de lutas na cidade de São Paulo, até agora 3 delas continuam detidas.
No fim, descobrimos que, sem a resistência e muito menos uma organização da sociedade civil, grupos diversos em prol da questão pública, seremos presas fáceis dos governos incompetentes, que só visam o fim do que ainda temos da questão pública. Cabe a reflexão, ou nos organizamos ou nossas futuras gerações, sofrerão o caos do presente, configurado no futuro.
Texto de Wagner Maia, com colaboração de Kauê Pallone