Ato denuncia massacre de Paraisópolis, em São Paulo

Texto e fotos Kauê Pallone/Fotoguerrilha

“Não foi acidente, é genocídio!”. A frase ecoava na voz de centenas de pessoas que compareceram ao ato em frente ao prédio da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), no fim de tarde desta quarta-feira (5), para denunciar a violência policial e responsabilizar o Estado pela morte de 9 jovens durante uma operação da Polícia Militar em um baile funk, no bairro de Paraisópolis, zona sul da cidade.

A violência praticada pela PM na madrugada do dia 1 de dezembro, além de resultar na morte dos jovens também provocou ferimentos em centenas de pessoas que estavam no local. Essas pessoas foram encurralados em vias estreitas enquanto eram recebidos com tiros de bala de borracha, gás lacrimogêneo, coronhadas, socos e chutes.

O ato contou com a presença do movimento negro e movimentos ligados aos direitos humanos. Além de seguir sendo a voz destas vidas ceifadas pela ação policial, o manifesto serviu como um grito contra a criminalização dos bailes nas quebradas, já que as festas são uma das únicas opções de diversão para os moradores das periferias de São Paulo.

De acordo com representantes dos movimentos e familiares que tiveram suas falas ouvidas durante todo o ato, ações policiais em bailes funk são frequentes. No início de novembro uma jovem de 16 anos perdeu o olho ao ser atingida por uma bala de borracha durante a repressão policial à um baile funk na região de Guaianazes, zona leste de São Paulo. Dois meses antes a PM apreendeu arbitrariamente 75 veículos de frequentadores de um baile funk em Itaquera, também na zona leste. Há 1 ano, três pessoas morreram pisoteadas no bairro de Pimentas, em Guarulhos, também estavam em um baile se divertindo.

A criminalização dos bailes funk pode ser comparada à que ocorreu com o samba no início do século 20, onde o ritmo era considerado ato de “vadiagem”. Quase 100 anos depois vemos que a política proibicionista contra movimentos culturais que agregam o melhor dos povos periféricos continuam sendo utilizadas contra eles, causando a morte de jovens como em Paraisópolis.

O Governador de São Paulo, João Dória (PSDB), demonstra através de ações violentas que o Estado se incomoda com a cultura que nasce nas periferias, desde sua campanha eleitoral seu discurso autoritário como o de que “a PM vai atirar para matar” mostra que o foco do Estado não é trabalhar em políticas públicas que melhorem a vida daqueles que moram nos extremos da cidade, mas sim impedir que momentos de diversão acabem, militarizando o cotidiano destas pessoas.

O que ocorreu em Paraisópolis não foge do que já foi praticado por outros governantes que apoiam o presidente Jair Bolsonaro, perpetuando discursos de ódio contra a população mais pobre.

Recentemente tivemos a prisão sem provas do DJ Renan da Penha, um dos organizadores do Baile da Gaiola, que assim como em Paraisópolis, também traz entretenimento para a favela no Rio de Janeiro. Sua prisão demonstrou como todo o Estado brasileiro pretende criminalizar o funk e tudo que o ritmo propõe nas quebradas.

A morte dos jovens de Paraisópolis acendeu uma fagulha no povo que está cansado de tanta repressão e morte dos seus. O ato em frente a SSP foi prova disso e após muitas falas foi encerrado com algumas velas sendo colocadas próximas as escadas da secretaria, que já estava tomada por Policiais Militares.

Por fim, um manifestante demonstrou sua indignação lançando tinta vermelha sobre os policiais e as escadas, nada mais justo.

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