A proposta desse ultimo post do ano é relembrar algumas fotos e momentos deste difícil 2020, pela visão dos membros do coletivo Fotoguerrilha. A pandemia nos pegou de surpresa, uma situação que até então, nunca havíamos passado, e de forma bastante intensa, em especial no Brasil, um país que não manteve nenhum tipo de unidade no combate ao vírus.
Para além de fotógrafos, somos pessoas, e a retrospectiva em fotos da nossa produção neste ano, pretende trazer alguns relatos mais particulares, sobre a foto e sobre os sentimentos que envolveram o momento decisivo entre ver a cena e o clique que a registrou.
Esperamos continuar nossas narrativas, tão necessárias, que vão desde os registros das lutas e da própria vida cotidiana, e que em 2021 possamos ter mais imagens, e mais histórias pra contar.
BATALHA DA ALESP EM SÃO PAULO
“No início do ano, em março, servidores públicos, em sua maioria professores, enfrentaram a repressão do Batalhão de Choque, durante ato contra a reforma da previdência promovida pelo governo Dória. Na foto, trabalhadores erguem uma barricada com tapumes para se defender das balas de borracha e bombas lançadas pela PM.” Foto: Kauê Pallone/Fotoguerrilha
INÍCIO DO LOCKDOWN NO RIO DE JANEIRO
Essa foto eu fiz em março, no começo do lockdown em aqui no Rio de Janeiro, no Saara área de comércio popular muito forte na área central da cidade. Ver a rua da Alfândega que é super movimentada assim, completamente vazia, me colocou realmente situada nos tempos de isolamento que iríamos passar. Foto: Bárbara Dias/Fotoguerrilha
SANITIZAÇÃO EM NITERÓI, RIO DE JANEIRO
Quando saímos de casa para uma pauta, normalmente temos em mente o assunto a ser abordado. Isso não significa que sabemos o que vai acontecer, mas normalmente temos uma ideia. Quando saí para fazer a primeira pauta sobre o COVID-19 eu não tinha ideia do que se tratava, o que esperar e principalmente o que iria acontecer. Essa foto foi feita em Niterói-RJ e foi um choque enorme pois era a primeira sanitização pública fora da China. Foi assustador ver os trabalhadores vestindo roupas que só antes vistas em filmes de ficção cientifica. Nesse momento percebi que a situação era grave, muito grave. em 9/10 meses de cobertura fotojornalística da pandemia eu estive em muitos lugares para as mais diversas pautas: ruas, drive-in, hospitais, cemitérios, narrando histórias de cidadãos , consultórios, periferias, doações de alimentos, etc. Todas tiveram e ainda tem impacto sobre mim, mas essa imagem foi a que me mais impactou, foi quando a chave virou. Não posso deixar de reforçar que esse governo que nos rege se trata de um genocida, e muitas mortes e sequelas poderiam ser evitadas. Foto: Rodrigo Campanario/Fotoguerrilha
PROTESTO DA ONG RIO DE PAZ
Em junho de 2020, dias após o Brasil bater a marca dos 40 mil mortos pela Covid-19, a ONG @riodepaz cavou cem covas rasas nas areias da Praia de Copacabana para simbolizar as mortes ocorridas durante a pandemia do novo coronavírus. Atualmente, passamos dos 190 mil mortos, com incertezas com relação a vacinação, descredibilização da ciência, ironias, irresponsabilidade e desrespeito do presidente Jair Bolsonaro ao lidar com esta crise sanitária, econômica e humanitária. Foto: Lucas Novello/Fotoguerrilha
ATO ANTIRRACISTA NO RIO DE JANEIRO
Em 2020, ano em que a luta antirracista esteve em evidência, a morte de Miguel, uma criança negra de cinco anos escancarou o racismo estrutural e a desigualdade que convivemos diariamente. Essa foto foi tirada no dia 07/06/2020 no segundo ato antirracista no Rio de janeiro nesse ano. Foto: Vinicius Ribeiro/Fotoguerrilha
ISOLAMENTO NO LOCKDOWN NO RIO DE JANEIRO
Julho de 2020, estávamos no olho do furacão da primeira onda da pandemia, ainda havia medidas restritivas de isolamento e as ruas estavam (ou deveriam estar) vazias. As pessoas ainda tinham medo. Para não parar de produzir, continuei a fotografar das minhas janelas: foi quando cliquei essa senhora, a foto foi num instante de segundo, e imediatamente me fez pensar tantas coisas sobre a vida dela. O que desejo hoje ao rever a imagem é que ela esteja bem. Foto: Luciana Bello/Fotoguerrilha
ATO JUSTIÇA POR MARI FERRER NO RIO DE JANEIRO
As mulheres brasileiras se reuniram em plena pandemia pra lutar contra barbárie dos nossos dias. O caso Mariana Ferrer desnudou a face machista do judiciário que culpabiliza a mulher pela violência sexual. O Estado é um instrumento dos homens brancos e poderosos, mas o movimento de mulheres está na luta por Mari Ferrer e por todas nós! Foto: Natalia Perdomo/Fotoguerrilha
EMPREENDEDORES DO FAROL EM SÃO PAULO
Encontrei esse grupo de vendedores em um cruzamento movimentado na Zona Sul de São Paulo ( naquele dia eram em seis no total). Todos os dias percorriam a distância de 30km da comunidade onde moram até o local e começavam as vendas as 7h da manhã, ao final do dia dividiam todo o dinheiro das vendas entre eles em partes iguais. Trabalhavam como uma cooperativa, familiares e vizinhos, um incentivava o outro e vendiam um produto indispensável para o momento: panos de limpeza! Eles fizeram mais do que sobreviver à falta de empregos, encontraram uma maneira de gerar empregos em uma comunidade carente de oportunidades. Quando os chamei de empreendedores pude notar olhares surpresos e orgulhosos, e me fizeram um pedido: ganhar impressas as fotos que fiz deles!Até hoje continuam, mas em outro ponto de vendas. Foto: Patrícia Borges/Fotoguerrilha
ATO JUSTIÇA POR JOÃO ALBERTO EM SÃO PAULO
O antirracismo está enraizado na ação. Como aliado da luta, acho que o antirascista deve tomar para si a responsabilidade pela erradicação de preconceitos, respaldados pelo sistema hierárquico que segmenta nossa sociedade em camadas. Para mim é sempre nosso dever, cobrar medidas para eliminar o racismo nos níveis individual, institucional e estrutural. Não existe falsa narrativa de “mas eu não sou racista!”, essa visão sempre tende a paralisa a prática antirracista, e romantiza as violências sofridas pela população negra com uma falsa ideia de harmonia. Foto: Pablo Washington/Fotoguerrilha